segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Sábio - Day



O sábio é aquele que deixa as feridas chegarem; é o que espera que elas cicatrizem no meio da morte, e aguarda as próximas dores, sendo elas homens ou mulheres. O sábio que vive a vida de verdade, nem se lembra das investidas do Mal em sua carne, tampouco chama por Deus. Ele percebe que nem sabe por que envelhece, e por isso a ninguém incomoda. Portanto, sábio é aquele que sabe respeitar a própria vida passageira; ele sabe que não dá tempo para duelar, menos ainda vencer sem nada entender. O sábio não ganha nem perde. Ele vive, e apenas isso.

(Para Augusto)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Para Drummond - Day



Carrega-me tu, Drummond, 
com tuas asas imortais de letras e fogo. 
Queria saber o que sentes, Carlinhos
agora, daí de onde estás:
 Serás anjo, homem ou demônio, 
_ Poeta das sábias coisas! 
Fala-me, através de teus poemas, 
digo até daqueles eróticos de
sugar e ser sugado pelo amor... 
Canta de onde estás, 
que eu ouço daqui, 
ouvirei de minha cama 
com teu livro entre as pernas. 
Sonho hoje, amado mineiro, 
com a possibilidade amalucada, 
de um dia estar contigo, 
e novos poemas de ti ouvir, 
pois sei que não paraste de escrevê-los, 
eterno Andrade que és!

sábado, 27 de outubro de 2012

4 Moments

 Quão bela me vês, carrasco que me enganas com beijos mortais, negros de amor, sangue e desejos...
 Quantas súplicas no palco da morte, na leveza do meu corpo apunhalado com teus insanos orgasmos bêbados...
 Fantasias moribundas entre minha boca e suas mundanas bundas nas avenidas da querência insólita...
Desnuda e só, te espero por toda a noite, ladrão de mulheres, fetiche engaiolado na palma de minhas mãos...

Fulgaz


 Não era o momento certo para sonhar, 
o dia estava claro, 
e eu podia ver de minha janela 
que o lívido sol já beijava as rosas do jardim.
 Eu sabia que eram beijos 
porque elas dançavam suavemente,
 esquecidas dos corvos
e das mãos ladras 
que as espiavam através do muro. 
Não, já não poderia sonhar estando dia claro,
 todavia, a noite tem passado com mais pressa,
 e não sei por que, 
mas minha ânsia de beijá-lo 
tem crescido, 
tanto quanto este tumor de tristeza
 que cresce a cada minuto,
 e como dói! 
Imagino-te, agora, acordando, 
escovando os dentes. 
Imagino teus pensamentos, a roupa que vestirás
Só não posso mais é sonhar com minha eternidade:
Por tua causa
 Virei fulgaz.

Charles Baudelaire - O Relógio

Os olhos do pobre - Charles Baudelaire


Charles Baudelaire


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A Nudez da Revolução

Já não se fazem movimentos de libertação. Já não há causas a serem defendidas. Já não há tesão! John Lennon and Yoko Ono.


Muito antes de Edward... Entrevista com o Vampiro

Entrevista com o vampiro é um dos melhores filmes do gênero. A saga Crepúsculo é pop pós-moderno. Aplausos para Brad Pitt, Tom Cruise e Kirsten Dunst. Baseado no livro homônimo da escritora Anne Rice, este é um clássico que merece ser revisto. Que tal?


O Esqueleto e o Amor - Day




Quem diria um dia
tu falares tais palavras,
senso torpe e angústia
ouvir-te dizer-me
- Vai-te tomar no cu.
Quanta gentileza não gerada,
e a geada da copilação
adentrou-me o ventre e a alma.
Disseste, bem junto ao ouvido meu:
- Foder-te-ei na primeira cama.
Mundo este que te chamas
à escuridão do opaco ver
tão distinto humano ser,
Alien das trevas, talvez?
Poupa-me, Esqueleto, de teu grilhão.
Afasta a dor nefasta que a mim me causas!
Dorme longe de mim, para lá do Infinito...
E não morras ainda,
não antes
de pedir-me o perdão.

Suco de Amor - Day



 Mergulho dentro de ti
te ligo na tomada em cima da pia. 
Centrifuga-me as carnes com tuas hélices assombrosamente rápidas. 
Decodifica minha mente
 e enxuga as lágrimas
 misturadas ao suco de maçã. 
Pecado, como ficar longe dele?  
Somente misturada em sua volúpia
posso dormir em paz, 
enquanto seca o liquidificador.

O Tempo I - Day


 Volúpia dos demônios,
 fogo nas narinas, 
vento nas ventas, moinho,
 farol de sacanagem atrás dos medos, 
no meio do mato, 
dividindo espaço com o lobisomen. 
Sangue nas coxas, menstruação fluorescente, 
atrai morcegos, vampiros e traição! 
Verdes matos, matas por depilar, 
fogo diabólico, a juventude é do demônio. 
Entre o meu castelo e tua tenda,
 só hoje escolho a tua tenda.

O Tempo II - Day


 Como fomos arrogantes no sexo,
 nas palavras, 
e nas tardes de crepúsculo e medo. 
Sem roupas, desfilávamos um para o outro, 
disputando qual era o mais sensual, 
o mais bonito, e o mais feroz.  
Com tuas pernas trêmulas pelo orgasmo, 
observavas meus cabelos em desalinho, 
e a vulva romântica tanto quanto Nietzsche. 
E hoje, old man, o que fazer
 com os grisalhos repousos 
depois do entardecer?

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Serafim de estrada - Day


 Súbito mórbido
 chupeta de mulher duro;
 medo chuva minha caneta
 seca papel molhado chuva choro morte. 
Deus quem és, quem é teu amigo 
pavio satanismo rua escura
 padre moça hímen pra quê?
 Santa chupa gasolina
 chupeta estrada inferno fim.
Gótica melindre mãos boate céu
e Serafim.

sábado, 29 de setembro de 2012

Dúvidas - Day


 Por que precisamos parar 
para pensar em coisas que nem deveriam 
povoar nossos pensamentos?
 Por que olho as pessoas 
e nem vejo uma lágrima sequer?
 Por que ninguém pode mais amar outro alguém?
 Há quem fale mal das religiões, da política, 
do pobre, das regras sociais, do sistema! 
Há quem mate índios, crianças, velhos, e animais irracionais. 
Há até quem nos enterre ainda vivos 
em cemitérios ideológicos, 
refazendo-nos nauseabundos e fracos 
ante argumentos tais que são capazes de derrubar
 até nosso mais secreto defensor. 
Tantos séculos após e eu ainda me pergunto 
por que a maldade existe no homem? 
Certas perguntas sem respostas, já que existem, 
haverão de ser transformadas em forcas, um dia.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Doctors Mortis - Day



Um dia irei revirar aquela antiga gaveta, 
encontrarei Freud e Jung a me esperar. 
Direi a eles quantas estrelas não sonhei. 
Vou desfalecer sobre seus corpos gritando help doctors! 
Depois cuspir sobre o tapete meu sangue embotado, 
gritar para borboletas virem buscar-me, 
ah, então, voando em tapetes mágicos 
conhecerei meu esposo nas Arábias do outro mundo...
 Espera, comecei pelo fim... Doctors, é o seguinte:

Já me matei faz tempo... Paulo Leminsk



já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma 





Paulo Leminski

Psico/hell- Day


 Tu estavas sentado no meio da praça que era cinza e sem árvores,
 tua cabeça era bonita, contudo, teus olhos sem brilho
era para baixo o teu olhar. 
Não tive dúvidas, eras tu morto, longe de mim para sempre.
 Amor maldito que nada deu nem recebeu!
 Noites aflitas de tantos gozos, era a despedida! 

Em outra parte minha casa era pura ruína,
 dois pavimentos de tijolos podres,
 na cozinha assava-se um bicho e panquecas,
 tudo era feio, nada existia com cores. 

Tentei beijar-te com a boca desgastada, 
não sentia o odor de hortelã, mas de morte e fantasma, 
 - não estávamos mais aqui. 

Abri os olhos, dormira no sofá, 
corpo dolorido, quase chorei de dor. 
Acordada, aliviada estava, entretanto, dormindo, 
ainda que morta, ao menos eu te via e te amava.

Último desejo - Calisto Seraphan


 Meu quarto se tornou uma masmorra, 
nele sou refém de minha própria mente deturpada 
pela perda, e obscurecida pelo prospecto da solidão eterna...
De nada adianta o consolo e a presença das damas 

que bailam pelas frestas da vida, 
nem dos heroicos cavaleiros a enfrentarem dragões 
e moinhos de vento...
A solidão provinda da alma é mais forte

 que qualquer criatura, e mais maligna 
que qualquer demônio,
nem o mais nobre dentre os nobres 
é capaz de encarar de frente essa fera...
O sofrimento dessa madrugada infindável 
pode ser comparado à ânsia do prisioneiro 
frente ao corredor da morte, sem último desejo,
 sem ultima refeição, apenas o corredor 
e a certeza de não mais retornar...
Nas trevas que me encontro agora pergunto 
ao seu retrato na cabeceira de minha cama, 
onde estarás agora?
 No céu ao lado dos anjos que tanto repudiava? 
Ou no inferno, o eterno lar dos suicidas?
Sem respostas leio mais uma vez 
a traiçoeira carta de despedida,
 sua última declaração de amor, 
seu último hino de arrependimentos...
Um dia iremos nos reencontrar, um dia...
Por enquanto tento cumprir seu último desejo...


  Calisto Seraphan