quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Último desejo - Calisto Seraphan


 Meu quarto se tornou uma masmorra, 
nele sou refém de minha própria mente deturpada 
pela perda, e obscurecida pelo prospecto da solidão eterna...
De nada adianta o consolo e a presença das damas 

que bailam pelas frestas da vida, 
nem dos heroicos cavaleiros a enfrentarem dragões 
e moinhos de vento...
A solidão provinda da alma é mais forte

 que qualquer criatura, e mais maligna 
que qualquer demônio,
nem o mais nobre dentre os nobres 
é capaz de encarar de frente essa fera...
O sofrimento dessa madrugada infindável 
pode ser comparado à ânsia do prisioneiro 
frente ao corredor da morte, sem último desejo,
 sem ultima refeição, apenas o corredor 
e a certeza de não mais retornar...
Nas trevas que me encontro agora pergunto 
ao seu retrato na cabeceira de minha cama, 
onde estarás agora?
 No céu ao lado dos anjos que tanto repudiava? 
Ou no inferno, o eterno lar dos suicidas?
Sem respostas leio mais uma vez 
a traiçoeira carta de despedida,
 sua última declaração de amor, 
seu último hino de arrependimentos...
Um dia iremos nos reencontrar, um dia...
Por enquanto tento cumprir seu último desejo...


  Calisto Seraphan

Um comentário:

Daisy Carvalho disse...

Seus poemas refletem a nova existência da humanidade, o desejo de um retorno a algum lugar que não se sabe onde é. Parabéns!