Era um maremoto, ou coisa parecida,
cortinas voando em tons azuis,
o fato é que a luz que entrava
junto ao vento e era insólita,
não se sabia de onde vinha.
Olhando o pesado relógio na parede craquelada
notei que lá não estava teu retrato,
a minha lembrança e tudo que ficou de ti
para que eu não morresse entre os jardins
e a piscina sem água, um abismo de ladrilhos
que me chamou por anos: joga-te!
Então a tempestade levou pelas vidraças
as nossas fotos.
Olhando o punhal de madrepérola,
resoluta desafiei a covardia minha.
Mas, assim como o anjo impediu
o desatinado Abraão,
eu também interrompida fui.
Quando olhei de novo a moldura de nosso retrato,
ela transformara-se em ti homem outra vez.
Disseste com embargada voz de saudade:
_ Vim buscá-la, querida. Ficaremos juntos eternamente, io e te.
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